A Beleza e o Mistério do Vaso Hundred Deer
Entre as porcelanas mais icônicas produzidas durante a Dinastia Qing, o Vaso Hundred Deer se destaca como uma verdadeira obra-prima da arte cerâmica. Criado com a refinada técnica Famille Rose, essa peça representa não apenas a excelência técnica dos artesãos imperiais, mas também um profundo simbolismo ligado à cultura e à filosofia chinesa.
O design do vaso apresenta uma paisagem exuberante, onde cem cervos são retratados em diferentes posições, interagindo com o ambiente natural. Essa cena, além de impressionar pela riqueza de detalhes e pelo equilíbrio das cores, carrega significados que vão além da estética. Na cultura chinesa, o cervo é um símbolo de longevidade, prosperidade e sucesso, tornando essa peça um verdadeiro amuleto de boa fortuna para quem a possuía.
Produzido nas oficinas imperiais de Jingdezhen, possivelmente durante o reinado do Imperador Qianlong, o vaso foi criado para servir como um objeto de prestígio dentro da corte. Seu alto nível de sofisticação, combinado com a simbologia auspiciosa de seu design, fez com que a peça se tornasse altamente valorizada ao longo dos séculos. Hoje, exemplares desse vaso estão entre os itens mais cobiçados por colecionadores e museus, alcançando cifras impressionantes em leilões internacionais.
Neste artigo, exploraremos a origem deste artefato, seu simbolismo na tradição chinesa, suas características artísticas e técnicas, além de seu impacto no mercado de arte e colecionismo. Essa jornada nos levará ao coração da arte cerâmica da Dinastia Qing, onde cada detalhe carrega um significado e cada peça conta uma história única.
A História do Vaso Hundred Deer e Sua Origem Imperial
A origem desta peça remonta à era da Dinastia Qing, um período em que a porcelana decorada alcançou um nível excepcional de sofisticação. Produzido nas oficinas especializadas, esse vaso representa a união entre arte e simbolismo, sendo uma das peças mais notáveis desse período.
A manufatura dessa porcelana está associada ao reinado do Imperador Qianlong (1736-1795), conhecido por seu refinado gosto artístico e pelo incentivo às artes. Durante seu governo, a demanda por porcelanas de qualidade superior aumentou consideravelmente, levando as oficinas a aprimorarem suas técnicas e a desenvolverem novos estilos. O Vaso Hundred Deer foi uma das criações mais impressionantes desse período, destacando-se tanto pela complexidade de sua decoração quanto pela riqueza de seu significado.
A peça foi fabricada em Jingdezhen, a principal cidade produtora de porcelana na China, famosa por sua tradição na arte cerâmica. Nessa cidade, funcionavam as oficinas que produziam exclusivamente para a corte, onde os melhores ceramistas trabalhavam sob diretrizes rigorosas. O resultado era uma porcelana altamente refinada, com cores vibrantes e um nível de detalhamento que a tornava única.
Embora a história específica de cada exemplar desse vaso seja difícil de rastrear, registros indicam que essas peças foram encomendadas para uso exclusivo da família imperial e de altos funcionários da corte. Sua simbologia auspiciosa fazia dele um presente de grande prestígio, utilizado para reforçar laços políticos e como demonstração de poder e sofisticação.
Com o tempo, o vaso passou a ser altamente valorizado por colecionadores, tornando-se um item cobiçado no mercado de arte. Sua presença em museus e leilões internacionais reforça sua importância histórica e estética, consolidando-o como uma das criações mais emblemáticas do período.
O Significado dos Cem Cervos na Cultura Chinesa
A decoração não foi escolhida por acaso. Cada elemento de seu design possui um significado profundo, refletindo conceitos enraizados na tradição chinesa. Os cervos, que ocupam todo o corpo da peça, são considerados símbolos de prosperidade, longevidade e harmonia, sendo frequentemente associados ao sucesso e à fortuna.
O Cervo Como Símbolo de Longevidade e Sucesso
Na cultura chinesa, o cervo está diretamente ligado ao conceito de longevidade. Segundo antigas crenças, esses animais habitavam as montanhas onde crescia o lingzhi, um cogumelo considerado sagrado e associado à imortalidade. Por isso, os cervos passaram a ser vistos como mensageiros da vitalidade e da vida longa, sendo frequentemente representados em pinturas, esculturas e peças decorativas.
Além disso, a palavra chinesa para “cervo” (鹿, lù) tem a mesma pronúncia da palavra que significa “salário oficial” (禄, lù), o que estabeleceu uma conexão simbólica entre o animal e o sucesso profissional. Na China imperial, os cervos eram considerados um emblema de altos funcionários do governo, representando prestígio e estabilidade financeira.
O Significado dos Cem Cervos
O número “cem” (百, bǎi) tem um significado especial dentro da cultura chinesa, pois está associado à ideia de plenitude e abundância. Assim, a presença de cem cervos no vaso representa uma multiplicação dos desejos de boa fortuna e prosperidade, tornando a peça um amuleto de grande valor simbólico.
A cena representada no vaso mostra os cervos em diferentes posturas e interações, reforçando a noção de equilíbrio e harmonia com a natureza. Essa composição transmite um ideal de vida próspera, em que a longevidade, o sucesso e a serenidade coexistem de forma plena.
A Relação com a Filosofia Chinesa
O design do vaso também reflete princípios do confucionismo e do taoísmo, duas das principais filosofias da China antiga. No confucionismo, a harmonia e o respeito à natureza são valores fundamentais, refletidos na maneira como os cervos são representados em um ambiente tranquilo e equilibrado. Já no taoísmo, o cervo é visto como um animal espiritual, cuja conexão com a longevidade e a sabedoria reforça os ideais de um ciclo de vida saudável e equilibrado.
As Características Artísticas e Técnicas
A sofisticação do Vaso Hundred Deer não está apenas no seu simbolismo, mas também na qualidade excepcional de sua execução. Criado com a técnica Famille Rose, essa peça se destaca pelo uso de cores vibrantes, esmaltação refinada e detalhes pintados à mão, que demonstram o alto nível de habilidade dos artesãos da Dinastia Qing.
A Composição do Design
O design do vaso apresenta uma paisagem natural detalhada, onde cervos de diferentes tamanhos e cores interagem em meio a montanhas, árvores e riachos. Essa cena é representada de forma fluida, criando um efeito visual dinâmico e harmonioso. Os artistas responsáveis pela pintura da peça utilizavam pincéis extremamente finos para capturar a delicadeza dos animais e da vegetação, garantindo que cada detalhe fosse reproduzido com precisão.
A disposição dos cervos no vaso não segue uma padronização rígida, mas sim um movimento natural, que dá a sensação de que os animais estão em plena liberdade. Esse efeito tridimensional era alcançado por meio de sombreamentos sutis e da sobreposição de camadas de tinta translúcida.
A Paleta de Cores e o Uso da Técnica Famille Rose
A técnica Famille Rose, utilizada na produção do vaso, foi introduzida durante o reinado do Imperador Kangxi e aprimorada nos períodos seguintes. Essa técnica permitia o uso de esmaltes opacos e translúcidos em tons suaves, que criavam um efeito visual refinado e equilibrado. A paleta de cores inclui:
Tons terrosos e dourados para os cervos, conferindo-lhes um aspecto natural e sofisticado.
Verdes e azuis suaves para a paisagem, transmitindo a ideia de serenidade e harmonia com a natureza.
Destaques em branco e rosa-claro para flores e pequenos detalhes, criando contrastes delicados e agradáveis à vista.
O esmalte aplicado sobre a pintura não apenas protege a superfície da porcelana, mas também intensifica o brilho e a profundidade das cores, garantindo que a peça mantenha sua beleza ao longo dos séculos.
O Processo de Fabricação e a Complexidade da Queima
A criação de um vaso como este envolvia um longo e minucioso processo de fabricação, que incluía:
Modelagem: A peça era moldada manualmente para garantir a simetria e a perfeição estrutural.
Primeira queima: A porcelana passava por um cozimento inicial para se tornar mais resistente.
Pintura: Os artistas aplicavam a decoração detalhada com pigmentos coloridos.
Aplicação do esmalte: Uma camada translúcida era adicionada para dar brilho e fixar as cores.
Queima final: A peça era levada ao forno novamente para vitrificar o esmalte e realçar os tons.
Cada etapa exigia extremo cuidado, pois qualquer erro no processo poderia resultar em rachaduras, variações indesejadas de cor ou deformações na estrutura da peça. Esse nível de complexidade fazia com que peças como o Vaso Hundred Deer fossem verdadeiras joias dentro da produção cerâmica imperial.
Vaso ‘Hundred Deer’ como um Estilo de Porcelana Imperial
A porcelana imperial muitas vezes seguia padrões estabelecidos, e o vaso Hundred Deer foi um dos modelos altamente valorizados. Essa peça não era única, mas sim um design reproduzido em diferentes tamanhos e variações, sempre mantendo a composição principal:
Forma Hu: Um formato clássico de vaso chinês, com corpo largo e base estreita.
Cervos em Paisagem Natural: O desenho apresenta cem cervos interagindo com montanhas, árvores e riachos. A representação dos animais é detalhada, com posturas variadas para criar dinamismo.
Paleta Suave e Equilibrada: O uso de esmaltes Famille Rose possibilitou a aplicação de cores vibrantes e harmoniosas, com destaque para tons de rosa, verde, azul e dourado.
Simbolismo Auspicioso: O número cem (百, bǎi) e os cervos (鹿, lù) são associados à longevidade, sucesso e fortuna, tornando a peça um presente valioso para altos oficiais ou um item de prestígio na corte imperial.
Produção Limitada e Valor Histórico
Embora não seja uma peça única, o Vaso Hundred Deer foi produzido em quantidades limitadas e exclusivamente para a corte imperial. Ele não era comercializado para o público e era utilizado em eventos oficiais e como presente imperial, o que o tornou raro.
Cada exemplar foi feito por artesãos altamente qualificados, seguindo padrões rigorosos estabelecidos nas oficinas de Jingdezhen, sob supervisão da administração imperial. Pequenas variações podem ser encontradas entre os vasos sobreviventes, mas o design geral segue um modelo reconhecido.
Exemplares Conhecidos e Registro em Museus
Devido à sua importância, várias peças desse estilo foram preservadas e hoje fazem parte de coleções particulares e museus. Algumas das versões mais conhecidas incluem:
Museu do Palácio, Pequim – Possui um exemplar catalogado como parte do acervo imperial.
Museu de Xangai – Abriga uma versão similar, destacada em estudos sobre porcelana Qing.
Christie’s e Sotheby’s – Casas de leilão renomadas já venderam múltiplos exemplares em diferentes anos, confirmando que mais de uma peça foi produzida.
Recordes em Leilões
O mercado de arte tem demonstrado um interesse significativo por esses vasos, refletido em vendas notáveis:
Christie’s Paris (2017): Um vaso ‘Cem Cervos’ do período Qianlong foi vendido por €4,15 milhões após uma intensa disputa de 15 minutos.
Sotheby’s Nova York (2015): Outro exemplar foi leiloado com estimativas entre US$600.000 e US$800.000
Esses valores destacam a raridade e a demanda por essas peças no mercado internacional.
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Aqui no DinastiaRosa.com, compartilho com carinho os segredos e a história fascinante da porcelana imperial chinesa Famille Rose. Até o próximo post!
Para visualizar uma imagem de um exemplar do Vaso Hundred Deer , você pode visitar o Pinterest da Sotheby’s, uma renomada casa de leilões que frequentemente apresenta peças de porcelana imperial chinesa. No link a seguir, é possível ver uma fotografia detalhada da peça: (#681) A FAMILLE-ROSE ‘HUNDRED DEER’ VASE QING DYNASTY, 19TH CENTURY